Lino de Miranda não foi um escritor metódico, com cadernos ou papéis próprios para registrar os seus escritos. Pergunto-me se há escritores assim metódicos! afinal a inspiração não escolhe hora, lugar ou tipo de papel...assim,ao longo do tempo, sua mulher, Maria Helena, foi encontrando em contracapas de livros da sua biblioteca pessoal escritos como este:
Há muito que não escrevo, só prometo.
Hoje, porém, com mais vigor o faço:
Um dia pego a jeito esse madraço
E obrigo-o a acabar este soneto.
Esta conversa mole é um espeto
Porque muito amarradilho e pouco caço
No entanto sempre vou tecendo o laço
A ver se acoisa dá neste soneto.
Do meio já passei com muito custo,
Agora faço votos pelo fim:
Preciso de compor este soneto.
Mas o que no princípio era meu susto
Agora se está a rir, e é de mim,
Que terminei madraço este soneto.
L.M. Manaus, 04/03/1975
(Encontrado na última contracapa do livro "Para conhecer melhor Grregório de Matos" de Hélio Pólvora)
Lê que são letras sagradas,
Não nas deixes profanar.
- Foram-me um dia ditadas
Quando estavas a rezar
Divina como uma estrela,
Ou como um anjo do céu,
Eras tão bela, tão bela.
Como quem muito sofreu.
L.M. 27/III/1960
(Para um fado de Coimbra)
(Encontrado na contracapa de trás de "Marília de Dirceu" - Tomás Antonio Gonzaga - Col. Livraria Sá da Costa - ED. Lisboa)
As observações foram anotadas pela esposa, Maria Helena.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
S.Pedro de Rates e outros casos verdadeiros (3ª edição)

Chegou, finalmente... a minhas mãos, a terceira edição do livro S. Pedro de Rates e outros casos verdadeiros, publicado em Portugal pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e Junta de Freguesia de S. Pedro de Rates, passando o livro a fazer parte da coleção "Na Linha do Horizonte" - uma coleção de livros e de temas que pretende constituir uma biblioteca que preserve a memória cultural da região.
Ficha catalográfica:
Título
S. Pedro de Rates e outros casos verdadeiros
Autor
Lino de Miranda
Revisão original
Pe. Lino Moreira, O.S.B.
Coleção
"Na linha do horizonte - Biblioteca Poveira" nº 22
3ª edição/Abril 2010
Co-edição
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim
Junta da Freguesia de S. Pedro de Rates
Coordenação editorial
Manuel Costa
Assistente editorial
Susana Mendes
Capa
S. Pedro de Rates. Escultura em amdeira policromada (Séc XVIII ?)
Foto de José M. Flores Gomes
Depósito Legal 313225/10
ISBN 978-972-9146-70-1
Arranjo gráfico - Plenimagem
Impressão e acabamentos - Gráfica S. Miguel, Lda.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Participações em alguns jornais
Lino de Miranda publicou alguns textos em jornais da Póvoa de Varzim. São textos curiosos que revelam o olhar de um homem que viveu experiências curiosas aquém e além mar. Os textos falam por si...
Segue um texto retirado de uma coluna intitulda "Onde Canta o Sabiá...", que o autor manteve por um tempo no jornal A Voz da Póvoa
FRIAGEM
A propósito desta vaga de frio que nos assolou e que provocou o nosso espanto por vermos nevar onde não havia memória de que tal acontecesse, veio-me à lembrança o que um dia, com não menor espanto, presenciei no Amazonas: a friagem.
Foi por alturas do S. João, santo muito festejado no Brasil, com fogueiras, quase à nossa moda. Nessa altura do ano, que é Inverno no Amazonas (quer dizer que chove todos os dias algumas horas por dia, ao contrário do Verão, em que chove todos os dias mas nem sempre na cidade toda ou em todas as ruas do mesmo bairro), alguma viração dos ventos do Pacífico costuma empurrar certa massa de ar dos Andes sobre a Bacia Amazónica, e por uns quatro ou cinco dias a temperatura baixa para valores do nosso Verão minhoto: vinte e poucos graus de dia e cerca vinte de noite, se bem que haja registos históricos de dezoito e talvez dezassete - o que deve ter sido uma verdadeira calamidade pública.
Dizem que Deus dá o frio conforme a roupa. Mas os homens, podendo, arranjam a roupa conforme o frio. Ora num lugar como a cidade de Manaus, onde vivem alguns conterrâneos nossos, nunca imaginei que haveria de ver ninguém com frio. Pois se a temperatura na cidade, mesmo de noite, anda quase sempre acima dos trinta graus, como imaginar que alguém pudesse sentir frio? Mesmo com roupa, ou sem nenhuma. Para nós, habituados a climas frios, a dificuldade era arranjar água fresca e correntes de ar. E quando veio a tal friagem, em junho de 75, foi uma óptima surpresa. Deixámos de suar por aqueles quatro ou cinco dias, a água dos canos já não queimava, desaparecia da pele das crianças, como por encanto, a brotoeja, desejávamos, enfim, que durasse mais um dia sequer, já que a esperança não era tão louca que pudesse desejar um mês ou dois fora do caldo habitual.
Mas ao mesmo tempo que para nós era uma alegria, para os naturais da terra era suplício. Vinham para a rua embrulhados em tudo o que tivessem em casa, mantas, lençóis, toalhas, cortinas, pedaços de pano sem distinção, e batiam o dente como nós batemos aqui durante uma geada forte ou uma nortada de inverno. Morriam os peixes no rio sem oxigénio, que fugia das camadas altas da água, devido à mudança de temperatura. Amarelavam e até caíam algumas folhas das árvores. Fechavam-se portas e janelas... Só não haviam lareiras dentro das casas. O frio não era para eles conforme a roupa.
LINO DE MIRANDA
(A Voz da Póvoa, março/1983)
OBS. A grafia do texto é aquela usada em Portugal na época em que foi publicado o texto.
Segue um texto retirado de uma coluna intitulda "Onde Canta o Sabiá...", que o autor manteve por um tempo no jornal A Voz da Póvoa
FRIAGEM
A propósito desta vaga de frio que nos assolou e que provocou o nosso espanto por vermos nevar onde não havia memória de que tal acontecesse, veio-me à lembrança o que um dia, com não menor espanto, presenciei no Amazonas: a friagem.
Foi por alturas do S. João, santo muito festejado no Brasil, com fogueiras, quase à nossa moda. Nessa altura do ano, que é Inverno no Amazonas (quer dizer que chove todos os dias algumas horas por dia, ao contrário do Verão, em que chove todos os dias mas nem sempre na cidade toda ou em todas as ruas do mesmo bairro), alguma viração dos ventos do Pacífico costuma empurrar certa massa de ar dos Andes sobre a Bacia Amazónica, e por uns quatro ou cinco dias a temperatura baixa para valores do nosso Verão minhoto: vinte e poucos graus de dia e cerca vinte de noite, se bem que haja registos históricos de dezoito e talvez dezassete - o que deve ter sido uma verdadeira calamidade pública.
Dizem que Deus dá o frio conforme a roupa. Mas os homens, podendo, arranjam a roupa conforme o frio. Ora num lugar como a cidade de Manaus, onde vivem alguns conterrâneos nossos, nunca imaginei que haveria de ver ninguém com frio. Pois se a temperatura na cidade, mesmo de noite, anda quase sempre acima dos trinta graus, como imaginar que alguém pudesse sentir frio? Mesmo com roupa, ou sem nenhuma. Para nós, habituados a climas frios, a dificuldade era arranjar água fresca e correntes de ar. E quando veio a tal friagem, em junho de 75, foi uma óptima surpresa. Deixámos de suar por aqueles quatro ou cinco dias, a água dos canos já não queimava, desaparecia da pele das crianças, como por encanto, a brotoeja, desejávamos, enfim, que durasse mais um dia sequer, já que a esperança não era tão louca que pudesse desejar um mês ou dois fora do caldo habitual.
Mas ao mesmo tempo que para nós era uma alegria, para os naturais da terra era suplício. Vinham para a rua embrulhados em tudo o que tivessem em casa, mantas, lençóis, toalhas, cortinas, pedaços de pano sem distinção, e batiam o dente como nós batemos aqui durante uma geada forte ou uma nortada de inverno. Morriam os peixes no rio sem oxigénio, que fugia das camadas altas da água, devido à mudança de temperatura. Amarelavam e até caíam algumas folhas das árvores. Fechavam-se portas e janelas... Só não haviam lareiras dentro das casas. O frio não era para eles conforme a roupa.
LINO DE MIRANDA
(A Voz da Póvoa, março/1983)
OBS. A grafia do texto é aquela usada em Portugal na época em que foi publicado o texto.
domingo, 20 de junho de 2010
UM HOMEM DO MUNDO
Lino de Miranda, como bom português, era um homem do mundo... viveu em muitos lugares, deu grandes guinadas na vida, como por exemplo, de São Pedro de Rates/Portugal (uma aldeia cujo registro de nascimento é anterior à existência da nação portuguesa) a Manaus (capital exótica do estado do Amazonas, no Brasil!!!) depois, Assis, a Princesa da Sorocabana, no interior de São Paulo e, como bom Ulisses, um dia volta a São Pedro de Rates...
Homem que sabia usar as palavras, escreveu sobre Manaus. Um texto curioso até pelos dados históricos!
RECORDANDO MANAUS
Já passaram treze anos desde aquele primeiro de Outubro em que, num Opala velho, entrei na balsa da Suframa para enfrentar o longo caminho de S. Paulo.
Tinha chegado ao Amazonas em Setembro de 74. Manaus crescera prodigiosamente nesses três anos. Saíram Frank Lima e João Walter de Andrade, entraram Henoch Reis e o Teixeirão. Fora restaurado o Teatro Amazonas e reinagurado, depois do restauro, pelo presidente Geisel, havia pouco tempo que assumira. Cantou Maria Lúcia Godói, a eterna, e mais uma vez, como é costume, ouvimos as Bachianas Brasileiras...
A cidade mudava a cada dia, corrida e varrida pelo ciclone do coronel Teixeira. O distrito industrial da Suframa inaugurava, com a naturalidade dos acontecimentos rotineiros, novas indústrias a cada semana. Acreditava-se na rodovia Manaus-Porto Velho. Havia esperança na Manaus-Boa Vista, que na época os Waimiri-atroaris não estavam deixando chegar a Caracaraí. Mas a Transamazónica dava para passar, assim como a Cuiabá-Santarém. Mais perto da cidade, na Manaus-Itacoatiara, o asfalto chegava ao Rio Preto da Eva... onde caiu, uma noite, o "frescão" cheio de gente.
Evandro Carreira, cujos discursos haviam de ficar famosos no Senado e no Brasil onde chegava a revista Veja, queria hidrovias na Amazónia e que o Brasil se tornasse "uma grande potência protéica". Fábio Lucena, Beth Azize, Farias de Carvalho, agitavam a Câmara e a Assembleia. Eunice Michilis era a primeira senadora do Brasil...
Todos os anos as águas subiam, e era um Deus-nos-acuda. Alvorada, Educandos, S. Raimundo, os barrancos dos igarapés, eram amontoados de gente, que chegava do interior, do Nordeste, de toda a parte, ou fugindo à cheia ou em busca da sorte na Zona Franca. Mas havia esperança para todos, apesar do sufoco. Manaus crescia, crescia, e crescia para todo o lado!
De dia, a criançada, de blusa branca e calça azul, passava indo ou vindo da escola. À noitinha, também de azul e branco, era a mesma revoada, mas dos adultos, que acreditavam no estudo.
Moacir Andrade era o pintor mais famoso do Amazonas. Nivaldo Santiago, um maestro que se afirmava. Havia outros pintores e outros músicos, e havia poetas. Entre estes, original e inesquecível, o Luiz Bacelar, bem mais poeta do que visconde, apesar da sua incontestada perícia em Heráldica.
Um grupo montava os "vaudevilles" de Márcio Sousa, que depois havia de publicar "O imperador do Acre". Trabalhava aí um actor que, pelo mérito e pelo esforço, merecia uma grande carreira: Moacir Bezerra.
Minha mulher, Maria Helena Moreira, tinha escola de ballet no TA (Teatro Amazonas). Muito agradavelmente me surpreendeu, alguns anos mais tarde, encontrar um aluno dela, dessa escola do TA, como bailarino da Companhia Nacional de Bailado de Lisboa. Assim como, numa série de televisão sobre os grandes rios do mundo, canadense ou alemã, não estou certo, ver abrir o pano do TA sobre uma aula de ballet que ela estava dando. Como não havia de estranhar que, poucos anos volvidos, fosse preciso restaurar de novo o teatro... e reinaugurá-lo? (O pessoal gosta de uma inauguraçãozinha...)
Faziam-se umas "semanas culturais", se bem me lembro do nome, sobre Música, Ballet, Teatro, Poesia... Articulavam-se diligências para um Centro de Artes, ligado à UA (Universidade do Amazonas), creio que para substituir e alargar o âmbito do antigo Conservatório. E durante um semestre - pasmem quantos! - ensinou-se Grego na Universidade do Amazonas. (No semestre seguinte, o Magnífico Reitor - não consigo recordar o nome dele - acho que no Amazonas não era preciso Grego nem Alemão... e cortou o barato dessas línguas inúteis ao seu conceito de cultura humanística - que custavam, na época, fazendo as contas em dólares, algo em torno de $100,00 por mês cada uma.)
Tinha chegado a Manaus pelo aeroporto velho, que parecia um improviso de campanha, mas era gostoso ir lá à noite tomar cafezinho e arejar do calor abafado do dia. E agora o novo aeroporto, muito confortável, muito bonito, donde algumas vezes partira para o Rio e onde outras tantas chegara, não nos convencia a sair definitivamente por ele. Seria por terra, num Opala velho que o Rodolfo Funes me deu, com duas rodas sobressalentes, a dele e outra que sobrava da Caravan do Aníbal Bessa e ele insistiu que eu levasse. Deixámos em casa dos amigos Artur Nogueira/Marisa Lobato os dois filhos que tínhamos em idade escolar para terminar o ano e partimos com os outros cinco, minha muher grávida de sete meses, muita fé e alguma coragem. Provavelmente não voltaríamos mais ao Amazonas. E esta ideia ressoava em nós como uma perda.
Lino de Miranda
Bacharel em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra, Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pea UNESP e doutorando na mesma área pela UNESP; foi professor na UA, na UNESP e na Universidade Católica Portuguesa.
OBS. QUEM DAVA AS REFERIDAS AULAS DE GREGO NO TEXTO ERA LINO DE MIRANDA.
Homem que sabia usar as palavras, escreveu sobre Manaus. Um texto curioso até pelos dados históricos!
RECORDANDO MANAUS
Já passaram treze anos desde aquele primeiro de Outubro em que, num Opala velho, entrei na balsa da Suframa para enfrentar o longo caminho de S. Paulo.
Tinha chegado ao Amazonas em Setembro de 74. Manaus crescera prodigiosamente nesses três anos. Saíram Frank Lima e João Walter de Andrade, entraram Henoch Reis e o Teixeirão. Fora restaurado o Teatro Amazonas e reinagurado, depois do restauro, pelo presidente Geisel, havia pouco tempo que assumira. Cantou Maria Lúcia Godói, a eterna, e mais uma vez, como é costume, ouvimos as Bachianas Brasileiras...
A cidade mudava a cada dia, corrida e varrida pelo ciclone do coronel Teixeira. O distrito industrial da Suframa inaugurava, com a naturalidade dos acontecimentos rotineiros, novas indústrias a cada semana. Acreditava-se na rodovia Manaus-Porto Velho. Havia esperança na Manaus-Boa Vista, que na época os Waimiri-atroaris não estavam deixando chegar a Caracaraí. Mas a Transamazónica dava para passar, assim como a Cuiabá-Santarém. Mais perto da cidade, na Manaus-Itacoatiara, o asfalto chegava ao Rio Preto da Eva... onde caiu, uma noite, o "frescão" cheio de gente.
Evandro Carreira, cujos discursos haviam de ficar famosos no Senado e no Brasil onde chegava a revista Veja, queria hidrovias na Amazónia e que o Brasil se tornasse "uma grande potência protéica". Fábio Lucena, Beth Azize, Farias de Carvalho, agitavam a Câmara e a Assembleia. Eunice Michilis era a primeira senadora do Brasil...
Todos os anos as águas subiam, e era um Deus-nos-acuda. Alvorada, Educandos, S. Raimundo, os barrancos dos igarapés, eram amontoados de gente, que chegava do interior, do Nordeste, de toda a parte, ou fugindo à cheia ou em busca da sorte na Zona Franca. Mas havia esperança para todos, apesar do sufoco. Manaus crescia, crescia, e crescia para todo o lado!
De dia, a criançada, de blusa branca e calça azul, passava indo ou vindo da escola. À noitinha, também de azul e branco, era a mesma revoada, mas dos adultos, que acreditavam no estudo.
Moacir Andrade era o pintor mais famoso do Amazonas. Nivaldo Santiago, um maestro que se afirmava. Havia outros pintores e outros músicos, e havia poetas. Entre estes, original e inesquecível, o Luiz Bacelar, bem mais poeta do que visconde, apesar da sua incontestada perícia em Heráldica.
Um grupo montava os "vaudevilles" de Márcio Sousa, que depois havia de publicar "O imperador do Acre". Trabalhava aí um actor que, pelo mérito e pelo esforço, merecia uma grande carreira: Moacir Bezerra.
Minha mulher, Maria Helena Moreira, tinha escola de ballet no TA (Teatro Amazonas). Muito agradavelmente me surpreendeu, alguns anos mais tarde, encontrar um aluno dela, dessa escola do TA, como bailarino da Companhia Nacional de Bailado de Lisboa. Assim como, numa série de televisão sobre os grandes rios do mundo, canadense ou alemã, não estou certo, ver abrir o pano do TA sobre uma aula de ballet que ela estava dando. Como não havia de estranhar que, poucos anos volvidos, fosse preciso restaurar de novo o teatro... e reinaugurá-lo? (O pessoal gosta de uma inauguraçãozinha...)
Faziam-se umas "semanas culturais", se bem me lembro do nome, sobre Música, Ballet, Teatro, Poesia... Articulavam-se diligências para um Centro de Artes, ligado à UA (Universidade do Amazonas), creio que para substituir e alargar o âmbito do antigo Conservatório. E durante um semestre - pasmem quantos! - ensinou-se Grego na Universidade do Amazonas. (No semestre seguinte, o Magnífico Reitor - não consigo recordar o nome dele - acho que no Amazonas não era preciso Grego nem Alemão... e cortou o barato dessas línguas inúteis ao seu conceito de cultura humanística - que custavam, na época, fazendo as contas em dólares, algo em torno de $100,00 por mês cada uma.)
Tinha chegado a Manaus pelo aeroporto velho, que parecia um improviso de campanha, mas era gostoso ir lá à noite tomar cafezinho e arejar do calor abafado do dia. E agora o novo aeroporto, muito confortável, muito bonito, donde algumas vezes partira para o Rio e onde outras tantas chegara, não nos convencia a sair definitivamente por ele. Seria por terra, num Opala velho que o Rodolfo Funes me deu, com duas rodas sobressalentes, a dele e outra que sobrava da Caravan do Aníbal Bessa e ele insistiu que eu levasse. Deixámos em casa dos amigos Artur Nogueira/Marisa Lobato os dois filhos que tínhamos em idade escolar para terminar o ano e partimos com os outros cinco, minha muher grávida de sete meses, muita fé e alguma coragem. Provavelmente não voltaríamos mais ao Amazonas. E esta ideia ressoava em nós como uma perda.
Lino de Miranda
Bacharel em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra, Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pea UNESP e doutorando na mesma área pela UNESP; foi professor na UA, na UNESP e na Universidade Católica Portuguesa.
OBS. QUEM DAVA AS REFERIDAS AULAS DE GREGO NO TEXTO ERA LINO DE MIRANDA.
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