Segue um trecho da sua narrativa. Outras coisas virão. Deixe um comentário, participe, tendo-o conhecido ou não.
"Todo gesto tem uma partida e um regresso. Não é completo se apenas começa e fica na ansiedade do seu fim. Como nas antigas tragédias, o gesto precisa de um repouso porque resulta nele. Mesmo que o final destrua a mão que faz o gesto, ou mesmo que não haja mais nada, ou mesmo que seja tudo fantasia e que não haja mais lendas nem significado nenhum nos gestos humanos. Mas há chegar a casa, há procurar o conforto de estar vivo e de esquecer, há chorar e há manter-se direito em cima dos pés, quando à volta nada sobra dos escombros que caem fragorosamente ou em silêncio, como num sonho em câmara lenta, quando tudo desaba. Há manter-se de pé, e sem pisar nas ruínas que retiveram a nossa alma e para as quais ainda foge o nosso coração rebelde, há continuar a construção, com a mesma intensidade, mesmo sem fé, por teimosia. Outra fé, menos verde, sim, mas mais rija do que a raiz agreste da carrasca que nasce nos montes pelados e secos do meu país, e que procura pela fenda apertada, que racha na rocha viva e árida que o sol afogueia, o vapor de uma lágrima de que extraia uma flor sem perfume, outra fé, dizia, para nunca mais, para todos os fogos e todos os sóis, profundamente nasce de novo, enrugada como se fosse velha, talvez como a nossa alma, e eterna como ela. Faremos o que tem de ser feito, e não deixaremos de nos manter tranquilos. Nem nós mesmos podemos tirar o que temos no nosso coração, e nada mais nos merece. Por isso nunca fomos maiores."
(MIRANDA, Lino de. Nostos.Póvoa de Varzim: Empresa Norte Editora, s/d)
Mais um caminho para se chegar aos encantos de Rates, de Portugal e do homem que foi (e é) Lino de Miranda.
ResponderExcluirFico feliz de ter palmilhado as estradotas destas terras (todas elas ditas acima) ao lado de uma guia cujas qualidades como amiga, companheira de trabalho e irmã são indescritíveis.
Gente de boa cepa, enfim!