segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"O tempo é senhor e sabedor..."(R.Reis) e não apaga imagens.... olhares... sonhos... sensações e, sobretudo ensinamentos! "Até um dia, Senhor!"



(Lino de Miranda, 1984)
Um poema inédito, em inglês, escrito po Lino de Miranda, em Manaus/AM-Brasil, 16/11/1974. (Acervo pessoal)

No, my friend, I am no more the poet.
When I was, you think nothing, but I was the poet, o my friend.
Now, it is me that nothing you were, my boy,
that nothing half-alive.
But, you know? there is a stranger in my mind,
and I have, just as not mine, the poet I am no more,
a memorial poet, a mechanical one, a stranger, o my God! not me! not me!
But no, my God, no: it is not me no more that poet.
Even, my friend, I don't know who or all myself
is in me some other thing than memory.

L. M. XVI-XI-MCMLXXIV Ex.Am.Man.Br.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009


LINO DE MIRANDA partiu no dia 28/11/1990... no dia 01/07/1990 escreveu este poema... é, no mínimo, surpreendente!...




Até um dia, Senhor!


Nasci no Norte, e porque muito erro

Errei o sul e o Nascente.

O melhor sangue deixei-o no desterro,

Por toda a parte fiquei ausente.



Das palavras que disse andam palavras

pelas bocas das gentes,

Mas do que fiz c’oas mãos e c’oas espadas



Fenecem glórias, brilhos, madrugadas,

E apagam-se poentes.



Minha alma cresceu, e conquistei

Outras muitas, e a dor.

O meu corpo pequeno dispersei

Névoas me levem o meu Rei,

Até um dia, Senhor!



Lino de Miranda, 01.07.1990

terça-feira, 8 de setembro de 2009



Lino de Miranda era poeta... segue um de seus poemas... inspirador, singelo...

OS VERSOS QUE EU NÃO GRAFEI

Os versos que eu não grafei
Olha-os tu, como vão lindos
Por esses olhos descendo
De cada pestana tua!
Olha-os, e traz nos olhos
Que me estão doces olhando
Sempre esses versos tão lindos
Por esses olhos descendo
De cada pestana tua...

Vão com eles, nos meus olhos,
Outros mais versos morrendo.
E nesses versos tão doces
Por esses olhos descendo
De cada pestana tua,
Vai minha alma docemente
Numa dor que me consola
Onde com ela nos olhos
Outros mais versos morrendo
Por esses olhos descendo
De cada pestana tua...
(Coimbra/1964)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


LINO DE MIRANDA Moreira (S.Pedro de Rates - Portugal, 1941 - Londrina - Brasil, 1990)
Estudou em Rates, Escola Luís de Camões; no Liceu da Póvoa de Varzim (Escola Secundária Eça de Queirós); Filologia Clássica na Universidade de Coimbra; primeiro mestre titulado pelos cursos de pós-graduação em Letras de Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Assis/SP (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada).
Foi professor... gostava de ser professor... lecionou no ensino secundário, preparatório e superior. Tem um bibliografia ativa composta dos poucos títulos que teve tempo de deixar:
- Para Helena, poemas, Coimbra, Portugal, 1964. (esgotado)
- "O Presságio" de J. Anastácio da Cunha, estudo, Tomar, Portugal, 1968. (esgotado)
- Para uma Poética de Paltão: ÍON - dissertação de mestrado, UNESP, Campus de Assis, SP - Brasil (1982)
- NOSTOS, narrativa, Póvoa de Varzim, Portugal, 1984.
- S. Pedro de Rates e outros casos verdadeiros, Póvoa de Varzim, Portugal, 1985.
- Fabulário Fabuloso (organização e co-autoria), Póvoa de Varzim, 1986.
Aos poucos, vão ser dados a conhecer textos do autor.
Por agora, ficamos assim...
Está aberto um espaço com o objetivo de resgatar a memória de um homem que tinha algo a dizer e... disse.
Segue um trecho da sua narrativa. Outras coisas virão. Deixe um comentário, participe, tendo-o conhecido ou não.

"Todo gesto tem uma partida e um regresso. Não é completo se apenas começa e fica na ansiedade do seu fim. Como nas antigas tragédias, o gesto precisa de um repouso porque resulta nele. Mesmo que o final destrua a mão que faz o gesto, ou mesmo que não haja mais nada, ou mesmo que seja tudo fantasia e que não haja mais lendas nem significado nenhum nos gestos humanos. Mas há chegar a casa, há procurar o conforto de estar vivo e de esquecer, há chorar e há manter-se direito em cima dos pés, quando à volta nada sobra dos escombros que caem fragorosamente ou em silêncio, como num sonho em câmara lenta, quando tudo desaba. Há manter-se de pé, e sem pisar nas ruínas que retiveram a nossa alma e para as quais ainda foge o nosso coração rebelde, há continuar a construção, com a mesma intensidade, mesmo sem fé, por teimosia. Outra fé, menos verde, sim, mas mais rija do que a raiz agreste da carrasca que nasce nos montes pelados e secos do meu país, e que procura pela fenda apertada, que racha na rocha viva e árida que o sol afogueia, o vapor de uma lágrima de que extraia uma flor sem perfume, outra fé, dizia, para nunca mais, para todos os fogos e todos os sóis, profundamente nasce de novo, enrugada como se fosse velha, talvez como a nossa alma, e eterna como ela. Faremos o que tem de ser feito, e não deixaremos de nos manter tranquilos. Nem nós mesmos podemos tirar o que temos no nosso coração, e nada mais nos merece. Por isso nunca fomos maiores."

(MIRANDA, Lino de. Nostos.Póvoa de Varzim: Empresa Norte Editora, s/d)