Lino de Miranda não foi um escritor metódico, com cadernos ou papéis próprios para registrar os seus escritos. Pergunto-me se há escritores assim metódicos! afinal a inspiração não escolhe hora, lugar ou tipo de papel...assim,ao longo do tempo, sua mulher, Maria Helena, foi encontrando em contracapas de livros da sua biblioteca pessoal escritos como este:
Há muito que não escrevo, só prometo.
Hoje, porém, com mais vigor o faço:
Um dia pego a jeito esse madraço
E obrigo-o a acabar este soneto.
Esta conversa mole é um espeto
Porque muito amarradilho e pouco caço
No entanto sempre vou tecendo o laço
A ver se acoisa dá neste soneto.
Do meio já passei com muito custo,
Agora faço votos pelo fim:
Preciso de compor este soneto.
Mas o que no princípio era meu susto
Agora se está a rir, e é de mim,
Que terminei madraço este soneto.
L.M. Manaus, 04/03/1975
(Encontrado na última contracapa do livro "Para conhecer melhor Grregório de Matos" de Hélio Pólvora)
Lê que são letras sagradas,
Não nas deixes profanar.
- Foram-me um dia ditadas
Quando estavas a rezar
Divina como uma estrela,
Ou como um anjo do céu,
Eras tão bela, tão bela.
Como quem muito sofreu.
L.M. 27/III/1960
(Para um fado de Coimbra)
(Encontrado na contracapa de trás de "Marília de Dirceu" - Tomás Antonio Gonzaga - Col. Livraria Sá da Costa - ED. Lisboa)
As observações foram anotadas pela esposa, Maria Helena.